quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Entreolhares.


Engraçado como as coisas terminaram, quer dizer, ficaram por terminar. Amanda não tinha mais como se explicar, eram tantas descobertas sobre o que ela havia dito e feito. Eram coisas demais que Marcello poderia aceitar. Ela também não sabia como explicar o que acontecia, foram tantas mentiras e tantos erros. Não tinha o que salvar.

Quando a dor toma conta de nós, o cotidiano torna-se ínfimo, cada detalhe e parte do seu dia voltam-se para uma simples pessoa. Não é por nada, não é por tudo, assim nos damos conta do imenso universo em que passeamos é maior e que apenas precisamos uma pessoa para nos acalmar e mostrar que somos maiores ele, mesmo não sendo.

Que esta se torna boa parte da razão do seu sorriso, o brilho no seu olhar, o tom de voz muda ao notar que é dele que estão falando, vai apenas piorando essa dependência e com ela a vida se torna um vício diário de acordar e correr para dizer bom dia e dormir o mais tarde possível apenas pelo fato de estar ouvindo sua voz.

Amanda era conhecedora dessa doença, esse amor bandido tinha lhe arrebatado, lhe pegou injustamente, quando logo após uma desilusão e uma resolução triste de relacionamento ela se viu completamente afogada e inebriada por esse cheiro tão característico. E tudo começou por um olhar, para virar amor levou pouco tempo.

Para Marcello foi diferente, ele nunca tinha vivenciado algo assim e não sabia como agir, era lindo vê-los, porém o que ninguém sabia, eram o número de brigas que eles tinham, eram tantas e tantas brigas, cada vez ficava pior, ninguém via, só os dois.

Eles se sustentavam como bons amigos e amantes, leviano engano da maioria. Ela queria mais e teve, porém acabou se enrolando e se perdendo em seus segredos e suas verdades, as vezes ela pensava que estava vivendo uma ilusão e poderia atuar como em parte de sua vida real, porém ela errou feio nisso.

A única lição que ela tirou desse triste fim com um lindo começo foi que nenhuma linda mentira supera a dor da verdade, pois em cada parte de seu ser, em cada gesto e forma com a qual ela agia, sua memória se prostrava as lembranças que eram tantas, dentro de um quarto, com um lençol amarelo, duas tartarugas e um computador.

Uma dúvida ficava: Será que ele sofria do mesmo mal? Mal de amor? A dor do fim? Mesmo sem essa certeza, ela construia em sua mente insana um novo começo, quem sabe até um novo final, quem conhece o futuro? A quem pertence? Ninguém pode descobrir, apenas viveu suas fantasias, sozinha.

3 comentários:

TSV disse...

menina, como tu escreve lindamente, já conheço seu poder nesse dom da escrita mas a cada novo texto me surpreende com a intensidade que escreve!
Parabéns SEMPRE!

Camila Paier disse...

É guria, acho que sofro do mesmo mal de amor, de Amanda. E há tempo é que venho tentado desesperadamente fugir disso, porque é de dilacerar o peito, de se confundir a cabeça. E dói, além de tudo, dói. Boa sorte pra moça!
Um beijo

Raissa;* disse...

Uma vez me disseram que essa dor é psicológica, na hora concordei pra ser educada, mas só quem já viveu essa dor sabe como dói de verdade, chega a se tornar uma cor física que deixa o coração em pedaços...
beeijo ;*

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